Apesar de ser muito raro, é possível identificar alguns defeitos nos vinhos. Alguns defeitos podem ser bastante sutis e, outros, podem até mesmo ser “confundidos” com qualidades.
Confira os principais defeitos dos vinhos e como identificá-los:
1. Bouchonné
Este provavelmente é o mais famoso defeito do vinho. E curiosamente costuma decorrer de fatores sobre os quais o produtor tem quase nenhum controle. O mais clássico é a rolha de cortiça, daí o nome “bouchonné”, que numa tradução direta significaria “rolhado”, ou seja, com gosto de rolha. No entanto, o temido 2,4,6-tricloroanisol, ou TCA, não está restrito às rolhas de cortiça. Ele pode ser encontrado em barricas de carvalho ou ainda em outros locais menos prováveis de armazenagem em uma vinícola.
O TCA se desenvolve quando os fenóis vegetais da casca da cortiça são expostos ao cloro, geralmente usado em processos de esterilização. Apesar de o TCA ser inofensivo à saúde, ele torna o vinho intragável.
Como reconhecer?
Fique atento aos aromas de papelão molhado, porão úmido, poeira, mofo e bolor. Se os aromas do vinho forem assim e não se sentir frutas, pode acreditar, seu vinho está bouchonné.
3. Oxidação
Há vinhos cujos estilos são levemente ou até bastante oxidativos. Mas, estilo à parte, um vinho jovem não deve apresentar uma cor similar à de um muito antigo e tampouco aromas de certa forma madeirizados (o termo vem do estilo dos vinhos da ilha da Madeira), que denotam um processo de oxidação. Isso pode ocorrer em diversas etapas da produção, mas principalmente durante os processos de envelhecimento do vinho em barrica ou garrafa. Uma rolha com defeito ou uma armazenagem pouco cuidadosa (tanto da sua parte quanto da do vendedor) também podem levar à oxidação. Aqui, o álcool é transformado em aldeído acético, resultando aromas indesejados.
Como reconhecer?
O vinho é jovem, mas já apresenta cor de um de safra mais antiga (tintos atijolados e brancos acastanhados, por exemplo)? Entre os aromas, há alguns toques acéticos, ligeiramente avinagrados? Os sabores também não se apresentam exuberantes? Há boas chances de seu vinho estar oxidado. Lembrando que há diferentes graus de oxidação, e alguns podem até ser tolerados.
4. Redução
Redução é o oposto da oxidação. E isso ocorre durante o processo de vinificação, quando a exposição limitada do vinho ao ar (um ambiente redutivo) leva a formação de compostos voláteis de enxofre. E os aromas de enxofre, convenhamos, não são dos mais agradáveis. A redução não significa necessariamente um defeito de produção do vinho e tende a não ser um problema muito sério, porque os odores geralmente desaparecem durante a aeração do líquido. No entanto, se cheiros ruins não desaparecerem após a aeração, então o vinho tem, sim, algum defeito mais grave. Se você sentir alguns dos aromas descritos abaixo, mas sutilmente, experimente decantar o vinho ou então jogue uma moeda de cobre na taça; o odor deve desaparecer depois disso.
Como reconhecer?
Um vinho dito reduzido pode apresentar aromas de fósforo queimado, alho, borracha queimada, repolho cozido e, provavelmente os mais característicos, ovos podres.
5. Acidez Volátil
Aqui estamos falando literalmente da transformação do vinho em vinagre, ou seja, da atuação das bactérias acéticas que degradam o álcool produzindo ácido acético. Esse tipo de problema costuma ser raro e muitas vezes denota falta de cuidado do produtor com processos de higienização. Essas bactérias tendem a ser eliminadas com a adição de anidrido sulfuroso, agente comumente usado pelas vinícolas para esterilizar recipientes, especialmente antes de estagiar os vinhos. Atualmente, com a onda dos vinhos naturais e de mínima intervenção, tem-se notado uma maior presença de notas de acidez volátil em alguns desses vinhos. Quando isso ocorre em níveis baixos, ela pode ser vista como “complexidade” da bebida. No entanto, aromas pungentes que pendem para o vinagre são um defeito mesmo e não qualidade.
Como reconhecer?
O principal aroma que denuncia a acidez volátil, obviamente, é o do vinagre. No entanto, os odores podem variar com tons de acetona, thinner, ou verniz para unhas, por exemplo, que provêm do acetado de etila. Confira também se o líquido não apresenta uma viscosidade incomum.
6. Vinho Cozido
Este é um dos defeitos de certa forma mais comuns. E aqui, até mais do que no caso do bouchonné, o produtor é quase sempre “livre de culpa”. O vinho pode ficar cozido, ou madeirizado (como já apontamos antes, o termo faz referência ao estilo oxidado dos vinhos da ilha da Madeira), devido a picos de temperatura no transporte ou mesmo na armazenagem. A exposição prolongada ao calor (como alguns vinhos da ilha da Madeira são propositalmente feitos) “cozinha” o vinho, quase que literalmente. Vinhos guardados em locais inadequados, sem controle de temperatura e expostos ao sol, invariavelmente vão ficar “cozidos”. E esse processo de cozimento torna a bebida sonsa ou precocemente oxidada.
Como reconhecer?
O vinho é novo, mas não mostra frescor? Parece “cansado”? No paladar as frutas parecem que foram cozidas ou assadas? Há notas de oxidação? A rolha estava deslocada para dentro? Tudo isso pode ser um indicativo de vinho cozido.
7. Cristais
Alguns vinhos podem apresentar depósitos cristalinos no fundo da garrafa. Isso nada mais é do que tartarato. Ele se forma quando o potássio e o ácido tartárico naturais se combinam. O tartarato é inofensivo e não altera a qualidade da bebida, apenas o visual. Com tantas técnicas à disposição das vinícolas, hoje seu aparecimento é muito raro.
8. Borras
Alguns vinhos jovens, especialmente os que não passam por processo de filtragem, apresentam borras, mas elas geralmente são um fenômeno normal em vinhos mais antigos. Esses sedimentos são compostos moleculares que se agrupam e se acomodam no fundo da garrafa. São inócuos e também não alteram a bebida. Se incomodarem, basta decantar.
Fonte: Adega/UOL